segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Desejando o Puro Leite da Palavra



Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso (1 Pedro 2.1-3).

De acordo com o apóstolo Pedro, uma das características de uma criança recém-nascida saudável é o ardente desejo pelo genuíno leite espiritual, exatamente como ocorre com os bebês naturais. Que pai ou mãe não conhecem o “ardente desejo” de uma criança recém-nascida?

No original, o sentido das palavras realçadas acima é o leite puro, sem misturas ou adulterações, da palavra. A palavra traduzida como espiritual na versão Revista e Atualizada (racional na versão Corrigida) é a palavra grega logikos, que vem de logos, usada muitas vezes no Novo Testamento para referir-se à Palavra de Deus, ou até ao Verbo de Deus, que é Jesus.

Assim como ninguém precisa ensinar um bebê a desejar o leite, que é sua fonte de vida, a grande característica de um cristão saudável é sua ardente fome pela Palavra de Deus. Isso pode parecer muito óbvio (e deveria mesmo ser!), mas não é. Estamos vivenciando, como povo de Deus no Brasil (e em alguns outros países), uma situação extremamente anormal e perigosa: multidões e multidões de recém-nascidos espirituais que não estão se alimentando consistentemente do puro leite da Palavra e que, na maioria, nem sabem que sua dieta é totalmente inadequada para o crescimento espiritual.

O Contexto da Igreja no Brasil

A explosão numérica da igreja evangélica no Brasil já foi bem comentada e analisada. Tem chamado a atenção das pessoas em muitos outros lugares do mundo. O fato de Deus ter aberto as portas da salvação de forma tão ampla é, na verdade, muito significativo, tendo em vista que não é o que constatamos em muitas outras regiões do mundo. A Europa, por exemplo, que tem uma longa história de cristianismo, é hoje uma região secular e materialista. As igrejas são escassas e pouco freqüentadas. Os países islâmicos são os que mais perseguem a expansão do evangelho. Em muitos desses lugares, os cristãos representam menos de um por cento da população. Quando ocorre uma única conversão, é causa de grande celebração.

Há pouco mais de duas décadas, aqui no Brasil, também não era muito fácil. A pessoa precisava ter coragem para se declarar “crente”. Havia oposição e até perseguição, em muitos lugares, quando se pregava o evangelho. Poucas pessoas rompiam suas raízes familiares e tradicionais para se converter a Cristo.

Agora, porém, a atmosfera espiritual mudou. As tradições perderam grande parte do seu poder. O céu se abriu sobre o Brasil. Multidões estão afluindo para as igrejas. Nunca foi tão favorável, tão “fácil” ganhar pessoas para Jesus.

Sabemos que nem todas as conversões são genuínas e que nem todos estão buscando Jesus verdadeiramente. Sabemos, também, que nem todos estão pregando o evangelho com motivação certa, assim como acontecia nos tempos primitivos (Fp 1.15-18). Mas não é sobre isso que queremos discorrer. O fato é que muitas pessoas, muitas mesmo, têm se convertido aqui nos últimos anos. E continuam chegando... É uma graça de Deus, um tempo oportuno, um momento de grande colheita.

O que me preocupa, porém, é que crianças recém-nascidas precisam de alimentação saudável. Do contrário, pela fragilidade de suas vidas, podem facilmente se perder novamente. Ou podem crescer com anemia espiritual e serem prejudicadas permanentemente.

Perdemos a Base na Palavra

As igrejas evangélicas traçam suas origens à Reforma Protestante, com Martinho Lutero, em 1517. Um dos grandes pilares daquela Reforma foi a volta à Palavra de Deus, a Bíblia. A leitura das Escrituras, que era proibida ao povo, passou a ser liberada. Os protestantes sempre foram conhecidos como o povo do Livro, que se orgulhava no fato de que o fundamento de suas igrejas não se baseava em líderes, instituições ou tradições, mas na Bíblia Sagrada. Antigamente, a grande bandeira das pregações evangelísticas aqui no Brasil, mais uma espécie de ataque contra os católicos, era esta: nós nos baseamos na Palavra de Deus, nós estudamos a Bíblia, vocês nem a conhecem.

Hoje, essa distinção não mais seria válida. O crente evangélico mediano carrega a Bíblia, mas não a conhece. O ensino bíblico é escasso ou inexistente. As pregações pouco incentivam a leitura bíblica, pouco conteúdo transmitem. A Escola Dominical está se tornando uma instituição do passado e nada foi colocado em seu lugar. A grande ênfase nas igrejas é cantar, celebrar, buscar uma resposta ou bênção pessoal, descobrir como viver uma vida próspera e trazer outras pessoas para encontrarem as mesmas soluções.

O texto em 1 Pedro 2 afirma que a criança recém-nascida deseja ardentemente o puro leite da Palavra, a fim de crescer para a salvação. Salvação, no sentido bíblico, não é uma mera questão de evitar o inferno; refere-se a todo o propósito divino de libertar o homem dos efeitos do pecado, de ligá-lo novamente a Deus em comunhão e de torná-lo outra vez uma peça ativa no seu plano redentor para toda a humanidade e até para a criação (veja Uma Tão Grande Salvação, na edição 42 da revista Impacto). Como, porém, as pessoas entenderão o verdadeiro significado e abrangência dessa salvação se não forem fundamentadas nas Escrituras, que nos foram dadas precisamente com o objetivo de revelar o plano de Deus?

Na sua segunda epístola, no primeiro capítulo, o apóstolo Pedro fala sobre a impressionante vocação de participarmos da própria natureza divina (v.4) e enfatiza a necessidade de diligência (vv. 5,10,15) a fim de confirmar e garantir esse nosso chamamento. A diligência é essencial em todos os aspectos da vida cristã, mas especialmente na busca do alimento espiritual, na leitura e no estudo da Palavra de Deus.

“...se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1 Pe 2.3). A melhor maneira de abrir o nosso apetite para o alimento espiritual é provar um pouquinho dele. É como um aperitivo que estimula a fome; se começarmos a provar as verdadeiras riquezas, a fazer contato com o próprio Deus por meio da sua Palavra e conhecer o seu pensamento, ficaremos amarrados para sempre! A diligência e a dedicação não serão problemas!

Que Nível de Envolvimento Você Tem com a Palavra?

Assim como ocorre numa escola natural, simplesmente ouvir uma exposição passivamente não traz muita aprendizagem. É preciso envolver-se ativamente no processo, escrevendo, copiando, debatendo, pesquisando, comparando e raciocinando.

Veja a seguir os quatro níveis de envolvimento que podemos ter com a Palavra de Deus como cristãos, e faça uma auto-avaliação para ver em que posição você está:

1. Ouvir a Palavra nas pregações dos cultos. É possível nem ter chegado a este primeiro nível. Você pode estar nos cultos e não ouvir praticamente nada, ou não guardar nada do que foi pregado. Há pessoas que ficam muito ativas no momento do louvor, mas totalmente apagadas quando se trata de ouvir a Palavra. Os cristãos que estão nesse nível só lêem a Bíblia nos cultos, acompanhando as pregações. Depois voltam para casa, guardam a Bíblia, e só a procuram novamente para o próximo culto.

2. Leitura individual, porém esporádica e avulsa. Talvez essa seja a classe mais numerosa nas igrejas hoje, formada por pessoas que lêem a Bíblia sozinhas, mas não de forma regular ou seqüencial. Se chegam a ler quase todos os dias, é de forma avulsa, um dia numa parte, outro dia em outra, sem qualquer método ou seqüência. É como pegar um versículo da caixinha de promessas: sempre à procura de algo inspirativo, devocional, não para aprender o pensamento de Deus ou conhecer os seus caminhos. É uma forma válida de ler a Bíblia, só não é suficiente. É como viver de lambiscos, docinhos e bolachas. Falta o alimento sólido.

3. Leitura individual, consecutiva e regular. Estas pessoas são bem mais raras hoje. São metódicas, lêem todos os dias, geralmente no mesmo horário, e em seqüência. Pelo menos lêem partes da Bíblia em seqüência, embora o ideal seja ler de capa a capa. A sede de Deus produz sede da sua Palavra. Mas é preciso ter diligência e perseverança, pois não é todos os dias que haverá uma revelação ou um alimento especial. Muitas coisas não serão plenamente compreendidas. Há trechos difíceis, listas de nomes, medidas do tabernáculo e assim por diante. Porém, não há outra forma de adquirir uma compreensão do pensamento de Deus e do seu plano desde o princípio até o presente. Deus valoriza muito o compromisso regular. Você verá quantas vezes a sua leitura diária coincidirá exatamente com o que Deus queria que você ouvisse naquele dia. Você pode chegar a este estágio por etapas, lendo o Novo Testamento primeiro. depois algumas outras partes, mas é essencial chegar ao ponto de ler a Bíblia por completo. E não uma vez só. É preciso ler continuamente. Temos em nossas mãos o maior tesouro que Deus podia nos dar (além do seu próprio Filho). O que estamos fazendo com ele?

4. Estudo diligente da Palavra. Este é o nível em que não apenas se lê a Bíblia, mas dedica-se de forma definida a estudá-la e pesquisá-la. Existem inúmeras maneiras de estudar, como seguir um tema por toda a Bíblia, estudar um livro ou capítulo em profundidade, estudar uma personagem, um período da história ou as profecias do futuro (escatologia), etc. Isso não é algo que se faz todos os dias, pois requer um tempo maior e, geralmente, alguns recursos além da Bíblia, como concordância, dicionário bíblico e outros. Nos estudos, meditamos sobre os assuntos com maior profundidade, abrimos um espaço maior para Deus nos revelar seus mistérios, ganhamos uma perspectiva mais ampla do que na leitura seqüencial. Não é necessário ser um estudante de seminário ou um obreiro para estudar a Bíblia. Qualquer pessoa pode cavar e procurar os tesouros preciosos do Senhor. Basta separar um tempo e começar.

Existem dois enormes campos de colheita no Brasil e em algumas outras partes do mundo: o primeiro é formado pelas multidões que ainda não conhecem a Jesus, enquanto o segundo contém os que aceitaram seu convite, mas ainda não conhecem quase nada a respeito do seu plano na Terra. Os dois campos estão brancos e precisam urgentemente de obreiros. “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Lc 10.2). Alguém está ouvindo o chamado?

por Christopher Walker

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