domingo, 20 de novembro de 2011

Ambição Pastoral: O Sucesso Pode Esvaziar Nossas Almas?




Na edição de verão de Leadership, contamos a história da Igreja de Oak Hills, em Folson, Califórnia. Há mais de seis anos, a igreja de Oak Hills trocou seus métodos de marketing religioso pela busca da edificação espiritual e o aprofundamento das relações entre os membros. Hoje as lideranças da igreja bendizem essa mudança radical, apesar do redemoinho que provocou e da perda de milhares de membros. Kent Carlson, um dos dirigentes dessa igreja, discute neste artigo a mudança dos valores pastorais ocorridas nas últimas décadas, quando deixou-se de encarar a ambição como um pecado e passou-se a considerá-la como um recurso.

Quero falar sobre ambição pastoral. E confesso-me apreensivo ao abordar esse tema.

Há alguns anos, graças ao "sucesso" de nossa congregação, fui convidado a participar de uma reunião do seleto grupo de dirigentes de mega-igrejas, dirigidos por um dos mais talentosos e bem-sucedidos pastores do país. Foram dias intensíssimos para mim. Vi meu nome ao lado de algumas das estrelas de primeira grandeza dentro da vasta sub-cultura eclesial. Senti-me importantíssimo.

Ao final da conferência, fui para o aeroporto na companhia de um pastor que se situava no extremo inferior da cadeia alimentar desse grupo de reverendos de grande porte. O homem era um poço de insegurança, e admitia essa condição com toda franqueza. Estava há três anos na direção de sua indústria evangélica e só conseguira 750 membros! Achava que não tinha o direito de juntar-se àqueles gigantes. Mesmo nos dias de mais avassaladora ambição, lembro-me de ter pensado: alguma coisa deve estar errada em nossa cultura eclesial, para que um pastor como aquele se sinta inseguro.

Durante as três últimas décadas, alguma coisa fez a ênfase de nossa ética pastoral mudar da fé para a produtividade e o sucesso. E isso fez arder a fogueira de nossa ambição. O que não é de surpreender, dada a natureza da cultura de nosso país. Assim como não me surpreende a ferocidade de uma guerra de ambições, uma vez que a tendência à egolatria inoculou todo mundo. Somente me pergunto por que um assunto de tal magnitude nunca é matéria de capa da mídia evangélica. Seria tão alentador vermos nossos líderes cristãos em uma mesa redonda sobre os modos de lidar com essa guerra. Todos nós sabemos que ela existe. Se ao menos pudéssemos falar dela com honestidade...

A ambição pastoral não é um problema recente. Paulo, na Carta aos Filipenses, diz para nada fazermos "por competição e vanglória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si mesmo, nem cuidando cada um só do que é seu, mas também do que é dos outros."

Grandes líderes espirituais, ao longo dos séculos, abordaram enfaticamente esse tema. Por exemplo, o teólogo puritano Richard Baxter escreveu: "Vigiai para que, movidos pela pretensão de vosso chamado, não vos torneis carnais e excessivamente cuidadosos de vossas ambições de sucesso mundano".

É com grande apreensão que abordo esse assunto. Não há como discorrer sobre ambição pastoral sem dar a impressão de estar julgando os outros, e ponho logo em mim essa carapuça. Afinal, quem sou eu para conhecer os pensamentos e intenções que moram no coração de outra pessoa? As motivações internas que nos dirigem formam uma confusa teia em que entram tanto a sinceridade quanto a preocupação egoísta, a nobreza de caráter e o narcisismo. Estamos portanto em uma briga de foice no escuro, onde a qualquer momento podemos ser alvejados por mentes preguiçosas ou simplórias, que gostam de transformar os que delas discordam em bonecos de papelão, para melhor rasgá-los publicamente.

Devo declarar também com toda clareza que prefiro seguir um pastor ambicioso a um preguiçoso. Acho melhor acompanhar quem quer mudar o mundo, do que quem só deseja atirar pedras. E como há muitos pastores que enfrentam os grandes desafios de seus ministérios com paixão, sinceridade e sede de Deus, e mantêm-se íntegros, cabe perguntar: nossa ambição vem de Deus?

Há mais de 20 anos assisto a palestras em igrejas. Tenho observado como ficamos medindo uns aos outros, procurando saber quem tem mais membros, a maior equipe, o maior orçamento, mais imóveis. O segredo que cada um de nós carrega, e não revela a ninguém, é que queremos ganhar o jogo de "quem tem a maior igreja". Ou pelo menos dar uma boa demonstração de grandeza. Estou convencido, por experiência própria, e também por ter perscrutado atentamente as trevas de meu próprio coração, que se de repente nossas ambições se mostrassem com clareza, cairíamos de joelhos em sinal de arrependimento.

Estou convencido também de que a ambição pastoral e uma ética pastoral centrada na produtividade e no sucesso terão um efeito devastador sobre nossas almas e sobre as almas das nossas ovelhas. Acredito que existe um caminho melhor, caminho esse que nos obriga a confrontar diretamente os nossos corações ambiciosos, e estarmos prontos a morrer para essas ambições. Precisamos ser capazes de detectar o cheiro da ambição pessoal, e fugir dela como se o futuro da igreja dependesse disso. E creio mesmo que dependa.

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