domingo, 7 de março de 2010

Verdades que os crentes não querem saber


Jesus não foi o fundador daquilo que chamamos de cristianismo. O que hoje chamamos de “igreja” é fruto de uma metamorfose que reflete o processo inverso daquele em que a larva se transforma em uma borboleta. O texto abaixo foi escrito por Ed René Kivitz, com o título original “A respeito de coisas que eu não posso deixar de saber.” Tomei a liberdade de repostar no P&V com o título acima:




Você sabia que foi apenas no ano 190 d.C. que a palavra grega ekklesia, que traduzimos como igreja, foi pela primeira vez utilizada para se referir a um lugar de reuniões dos cristãos? Sabia também que esse lugar de reuniões era uma casa, e não um templo, já que os templos cristãos surgiram apenas no século IV, após a conversão de Constantino?
Você sabia que os cristãos não chamavam seus lugares de reuniões de templos até pelo menos o século V? Você sabia que o primeiro templo cristão começou a ser construído por Constantino, sob influência de sua mãe Helena, em 327 d.C., às custas de recursos públicos, e sua arquitetura seguia o modelo das basílicas, as sedes governamentais da Grécia e, posteriormente, de Roma, e dos templos pagãos da Síria?
Você sabia que as basílicas cristãs foram construídas com uma plataforma elevada acima do nível da congregação e que no centro da plataforma figurava o altar, e à sua frente a cadeira do Bispo, que era chamada de cátedra? Você sabia que o termo ex cathedra significa “desde o trono”, numa alusão ao trono do juiz romano, e, por conseguinte, era o lugar mais privilegiado e honroso do templo? Você sabia que o Bispo pregava sentado, ex cathedra, numa posição em que o sol resplandecia em sua face enquanto ele falava à congregação, pois Constantino, mesmo após a sua conversão ao Cristianismo, jamais deixou de ser um adorador do deus sol?
Você sabia que o atual modelo hierárquico do Cristianismo, que distingue clero e laicato, teve origem e ou foi profundamente afetado pela arquitetura original dos templos do período Constantino? Você sabia que Jesus não fundou o Cristianismo, e que o que chamamos hoje de Cristianismo é uma construção religiosa humana, feita pelos seguidores de Jesus ao longo de mais de dois mil anos de história?
Você sabia que o que chamamos hoje de Cristianismo está profundamente afetado por pelo menos três grandes eras: a era de Constantino, a era da Reforma Protestante e a era dos Avivamentos na Inglaterra e nos Estados Unidos? Você sabia que é praticamente impossível saber a distância que existe entre o que Jesus tinha em mente quando declarou que edificaria a sua ekklesia e o que temos hoje como Cristianismo Católico Romano, Protestante, Ortodoxo, Pentecostal, Neopentecostal e Pseudopentecostal?
Você sabia que os primeiros cristãos se preocuparam em relatar as intenções originais de Jesus com vistas a estender seu movimento até os confins da terra? Você sabia que este relato está registrado no Novo Testamento, mais precisamente nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos?
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Você sabia que o terceiro evangelho, Evangelho Segundo Lucas, e o livro dos Atos deveriam formar no princípio uma só obra, que hoje chamaríamos de “História das origens cristãs”? Você sabia que os livros foram separados quando os cristãos desejaram possuir os quatro evangelhos num mesmo códice, e que isso aconteceu por volta de 150 d.C.? Você sabia que o título “Atos dos Apóstolos” surgiu nessa época, segundo costume da literatura helenística, que já possuía entre outros os “Atos de Anibal” e os “Atos de Alexandre”?
Nesse emaranhado de coisas que eu não sabia, três coisas eu sei. A primeira é que a crítica que o mundo secular faz ao Cristianismo institucional tem sérios fundamentos, ou como disse Tony Campolo: “Os inimigos estão parcialmente certos”. A segunda coisa que sei é que nesta Babel que vem se tornando o movimento evangélico brasileiro, está cada vez mais difícil identificar a essência do Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor. A terceira coisa que sei é que vale a pena perguntar aos primeiros cristãos o que eles entenderam a respeito de Jesus, sua mensagem, sua proposta de vida e suas intenções originais. Vale a pena voltar à Bíblia. Não há outra fonte segura de informação e formação espiritual, senão a Bíblia Sagrada, especialmente o Novo Testamento.
1] É importante denunciarmos uma nova onda no diálogo da Igreja Emergente de elevar os Evangelhos a um nível superior às demais escrituras, especialmente com relação ao Antigo Testamento e às cartas paulinas. Essa horrenda prática, a qual eu chamo de “Teologia da Subordinação Bíblica”, ataca a infalibilidade do cânon e coloca em dúvida a integridade de algumas porções das Escrituras. Nasce da dificuldade que alguns teólogos neomarcionistas têm em conciliar o Deus de amor do NT com os atos do Deus irado do AT, e com o Deus “machista, homofóbico e escravagista” do apóstolo Paulo. Em nossa peregrinação de Roma à Jerusalém, devemos estar abertos ao processo de desconstrução do cristianismo atual, mas esta deve ser feita à luz das Escrituras. Ao questionar o poder de Deus em guardar nossa única referência para a Verdade, perdemos nosso Fundamento e referência. No processo de descontrução que todo movimento de reforma requer, a única coisa que jamais podemos abrir mão é da premissa inegociável de que TODA Escritura é a Palavra de Deus. Caso contrário, estaremos desconstruindo o cristianismo atual somente para construir outro ao nosso bel prazer, fundamentado no humanismo “altruísta e caridoso” do pós-modernismo. Não julgo as intenções do autor neste sentido, no que se refere a este artigo em particular, mas faço esta ressalva porque conheço o diálogo emergente do qual Kivitz participa e sei que porções do texto como esta podem ser usadas pelos emergentes liberais para sustentar a subordinação que alguns estão propondo. No demais, parafraseando o Campolo: “Nossos adversários não estão tão errados assim.”
Publicado por Hugo em 12/1/10 • Categoria: Odres Novos

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