Sabe,
eu tenho pensado nas palavras de Jesus quanto a Santa Ceia. Hoje quando participamos desse ritual
religioso (pois foi isso o que se tornou essa maravilhosa ordenança do Mestre), tendemos
a ignorar o seu significado real e espiritual.
Mas
o que de fato significa “comer de Minha
carne” e “ beber de Meu sangue”?
De
forma ainda bem rasa e superficial, penso que comer de minha carne é uma decisão de se apropriar do Jesus
que se despedaçou por nós. Um Jesus que foi ao extremo de sofrer antes mesmo da
cruz, através de chicotes, de agressões, de humilhações em seu corpo e
principalmente da compaixão pelos desamparados dessa era.
Quando
uma pessoa participa da santa ceia, quando esta se achega a mesa do Senhor
Jesus para comer de Sua carne, ela precisa pensar e valorizar este sacrifício, nessa
entrega, e louvar a Deus por que foi por nós que O Mestre sofreu se deu,
chorou, morreu.
Comer
da carne significa receber e aceitar que tudo o que Jesus sofreu por mim foi
suficiente para me unir a ele. Quando como da carne do mestre, estou declarando
que sou parte disso, que recebo tal oferta, que me conformo com Cristo em suas
dores, e agonias ainda nessa vida.
Por
isso acho complicado que incentivemos ou proibamos pessoas de tomar decisões
com repeito a Santa Ceia ritualística em nossos encontros. O máximo que podemos
dizer é o que disse o apóstolo Paulo, cada um se examine a si mesmo.
Assim
serve para o “beber de meu sangue”. Quando tomamos do cálice do Mestre, estamos
fazendo um pacto, uma aliança com esta morte. Estamos declarando que não apenas
aceitamos a sua morte por nós, e sim que essa morte é nossa também. Por isso
está escrito: “aquele que morreu com Cristo, ressuscita com Ele”. Aceitamos Sua cruz, Seu opróbrio, Sua entrega
total a Deus em prol da humanidade.
Comer,
mastigar engolir, isso tudo é uma decisão consciente e revela ações
interligadas. Ao colocar algo na boca podemos cuspir de imediato se não
gostamos do sabor. E tenho certeza que você já fez isso com uma fruta
estragada, ou com algo amargo ou apimentado. E quando tratamos da carne do
mestre, talvez não tenhamos dificuldades em comer aquele mísero pedaço de pão
oferecido em nossos encontros.
Mas
quando provamos das dores de pessoas e logo ignoramos isso, ou evitamos o nosso
próximo, dentre outras coisas, estamos
evitando e negando todo o compromisso que fizemos com o mestre naquele ritualzinho
mixuruca que superestimamos ao invés de valorizar a vida, o amor ao próximo, o
se entregar de corpo e alma pela causa.
Será
que você acredita mesmo que basta comer aquele pedacinho de pão seja suficiente
para se tornar um com o Mestre? Meu caro, você precisa entender que comer da carne,
beber de seu sangue vai muito além disso, pois ter os seu corpo em pedaços não é tão
confortável assim.
Comer
da carne de Jesus tem haver com se identificar com a carne sofrida das crianças
de rua violentadas. Comer da carne de Jesus tem haver com oferecer o seu rosto
para que a mulher violentada seja preservada. Comer da carne de Jesus é se colocar entre as chibatadas da ganância dos
políticos corruptos e as pessoas desamparadas que sofrem. Quem come da carne do
Mestre não se desvia das cusparadas dadas pela mídia que despeja seu lixo
violento, pornográfico e imoral em cima de crianças desamparadas por pais
ocupados demais em sobreviver. Comer da
carne e sofrer por causa da injustiça, da indiferença, do ódio.
Será
que você acreditava que comer de sua Carne era apenas saborear aquele pãozinho
servido na igreja? A carne não é tão
saborosa assim. Lembre-se que os pães asmos eram amargos.
Este
fim de semana, comemoramos a páscoa do nosso Salvador, e creio que a melhor
maneira de celebrar isso, é se identificando com o Mestre em sua dor e
angústia, é se levantar e agir, e comer com quem não tem comida, é vestir quem
não tem roupa, é sofrer com os que sofrem, é sentir-se preso com os
encarcerados, quer seja nos presídios e casas e custódias, ou os aprisionados
pelos vícios, pelos engodos dessa vida, é chorar com os que choram. É deixar o
corpo de Jesus ser revelado ah quem esta em pedaços pelo motivo que seja.
Beba
do cálice do mestre sofredor com as lágrimas da mãe que perdeu seu ente
querido, com a menina que chora a violência sofrida, com o sangue derramado
inocentemente daquele menino que infelizmente estava no lugar errado na hora
errada.
Chocolates,
bombons, são bons, mas não suficiente, e nem real, existe uma páscoa que Jesus nos
convoca a celebrar, e a comê-La ou
bebê-la me memória dEle.
Coma
de sua carne e deixe ser comido, absorvido pelas pessoas em suas necessidades e
angústias. Manifeste o sangue d Jesus e não apenas clame contra a proteção do
seu pecado ou dos demônios, mas vá a casa de alguém, ou ao seu encontro e pinte
os umbrais dessa casa ou do coração desta pessoa com a sua entrega e culto a Deus.
A
Páscoa que o cristão celebra, a ceia que comemos, deveria ser mais parecida com
o Mestre vivo e não com um ritual morto, destituído de vida e poder, sem
sentido e egoísta.
No
amor de Cristo Luciano Couto
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