Nos artigos que tenho lido a respeito dos “desigrejados”, vejo uma grande diversidade de opiniões. Leio as linhas daqueles que desdenham e reprovam os que trocaram a “Santa Madre Igreja” por uma mera “seita doméstica”. Mas me alegro ao ler também as palavras de alguns líderes denominacionais mais visionários que se expressam solidários àqueles que já não suportam mais certos sistemas de poder e a mecanização institucionalizada da Ekklesia.
Os odres velhos e empoeirados ainda dispõem de muita gente disposta a preservá-los – líderes que condenam qualquer coisa fora de seu arraial institucional que tenha vida e que se mova – ao contrário de suas relíquias centenárias e de alguns crentes empalhados de seus museus religiosos. Já outros, à semelhança de Gamaliel, permanecem na religião institucional de seu tempo, não participam diretamente de nenhuma “revolução”, mas tampouco idolatram odres de qualquer natureza. Estes se expressam com temor e cautela com relação a algo que “pode ser de Deus”. Alguns destes “Gamalieis” têm até mesmo dito na blogosfera que “compreendem os ‘desigrejados’”. E visto ser inútil dialogar com os CNPJólatras, tomados por sua característica amnésia histórica, dirijo-me então a você, Gamaliel.
Caro amigo Gamaliel, que fique bem claro de uma vez por todas que existe uma diferença entre o fenômeno dos “desigrejados” e a Igreja nos lares.1 Enquanto os primeiros dizem “amo a Jesus, mas não a Igreja”, os cristãos que se reúnem nos lares dizem “amamos a Cristo e por isso amamos a Igreja (pois Ele e a Igreja são um), somente não aceitamos suas vestes greco-romanas”. Enquanto os primeiros defendem um estilo de vida errante e solitário, os cristãos que se reúnem nos lares se esforçam por encarnar um estilo de vida comunitário, crendo que a vida em comunidade é a representação fiel da Ekklesia bíblica. Enquanto os primeiros vivem uma “espiritualidade sem compromisso”, característica da pós-modernidade, os que se reúnem nos lares acreditam que o discipulado por relacionamento é essencial para a vida da Igreja, e que este ambiente de compromisso e sujeição mútuos é o habitat natural do cristão, na mesma intensidade em que a água é para o peixe (fora dela ele morre de boca aberta).
A propósito, Gamaliel, muitos daqueles que se reúnem nos lares saíram das denominações justamente porque sua experiência de institucionalismo cristão, com sua maratona de programas religiosos e suas igrejas McDonalds (onde as pessoas se reúnem para “comer”, mas não cultivam relacionamentos entre si ), já não proporcionava mais este ambiente nativo e essencial à vida da Ekklesia. Muitos estavam nas denominações como peixes morrendo de boca aberta no Rio Tietê, imersos em algo que parecia água, mas que já não tinha H2O.
Portanto, Gamaliel, com todo respeito e genuina consideração à sua salutar sapiência, “desigrejados” são aqueles que não têm Igreja, sem teto, sem terra e sem casa espiritual. A Igreja nos lares não é composta por um bando de errantes desigrejados e não deve jamais aceitar este rótulo. Ou até mesmo você , Gamaliel, vai confudir a Igreja católica com a Igreja Católica? Ou a Igreja universal com a Igreja Universal?
Talvez você não pense assim, mas chamar aqueles que se reúnem nos lares de desigrejados (que quer dizer “desprovido de igreja”) é fruto de uma ignorância minimalista que limita a Igreja de nosso Senhor aos arraiais institucionais – um reducionismo insano, bíblica e historicamente falando – algo inaceitável para você, Gamaliel, que conhece tão bem a Bíblia e a história da Igreja.
Lembra, Gamaliel, de que a Ekklesia começou como uma rede informal de Igreja nas casas e não como uma organização? De que certas estruturas e pedigrees institucionais emergiram somente com o passar dos séculos? E de que há uma grande probabilidade, Gamaliel, de que a instituição da qual você faz parte seja o monumento histórico de algum grupo dissidente que um dia foi considerado tão “desigrejado” quanto a Igreja nos lares dos dias de hoje?
Diz o oráculo que é bem aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova. Portanto, Gamaliel, aconselho que deixe de se utilizar de certos jargões característicos dos CNPJólatras, para que seu discurso faça mais jus à flexibilidade e à ampla visão espiritual que você parece demonstrar.
E, por favor, desculpe-me por chamá-lo de Gamaliel, caso o tenha ofendido. Pela desenvoltura que demonstra ter, imagino que você seja um homem de Deus que está frutificando no lugar onde o Senhor o plantou, pois está atento à manifestação da MULTIFORME sabedoria de Deus nos dias atuais. Ao chamá-lo de Gamaliel não quis comparar você a um fariseu melhorado, ou a sua Igreja à uma sinagoga. Minha intenção foi somente demonstrar a alguém de cabeça aberta, assim como você, como alguns rótulos podem soar beligerantes, às vezes.
Nota
[1] Para entender a diferença entre o pós-igrejismo e a Igreja nos lares recomendo a leitura desta série de dois artigos de Frank Viola chamada “Cristianismo Pós-Igreja” e um artigo de minha autoria chamado “Peregrinos da Pós-modernidade“. Por estes artigos entende-se, portanto, que a Igreja nos lares não endossa uma prática de “igreja virtual” descomprometida, somente desconstrói algumas tradições que foram agregadas à prática de Igreja.
Os odres velhos e empoeirados ainda dispõem de muita gente disposta a preservá-los – líderes que condenam qualquer coisa fora de seu arraial institucional que tenha vida e que se mova – ao contrário de suas relíquias centenárias e de alguns crentes empalhados de seus museus religiosos. Já outros, à semelhança de Gamaliel, permanecem na religião institucional de seu tempo, não participam diretamente de nenhuma “revolução”, mas tampouco idolatram odres de qualquer natureza. Estes se expressam com temor e cautela com relação a algo que “pode ser de Deus”. Alguns destes “Gamalieis” têm até mesmo dito na blogosfera que “compreendem os ‘desigrejados’”. E visto ser inútil dialogar com os CNPJólatras, tomados por sua característica amnésia histórica, dirijo-me então a você, Gamaliel.
Caro amigo Gamaliel, que fique bem claro de uma vez por todas que existe uma diferença entre o fenômeno dos “desigrejados” e a Igreja nos lares.1 Enquanto os primeiros dizem “amo a Jesus, mas não a Igreja”, os cristãos que se reúnem nos lares dizem “amamos a Cristo e por isso amamos a Igreja (pois Ele e a Igreja são um), somente não aceitamos suas vestes greco-romanas”. Enquanto os primeiros defendem um estilo de vida errante e solitário, os cristãos que se reúnem nos lares se esforçam por encarnar um estilo de vida comunitário, crendo que a vida em comunidade é a representação fiel da Ekklesia bíblica. Enquanto os primeiros vivem uma “espiritualidade sem compromisso”, característica da pós-modernidade, os que se reúnem nos lares acreditam que o discipulado por relacionamento é essencial para a vida da Igreja, e que este ambiente de compromisso e sujeição mútuos é o habitat natural do cristão, na mesma intensidade em que a água é para o peixe (fora dela ele morre de boca aberta).
A propósito, Gamaliel, muitos daqueles que se reúnem nos lares saíram das denominações justamente porque sua experiência de institucionalismo cristão, com sua maratona de programas religiosos e suas igrejas McDonalds (onde as pessoas se reúnem para “comer”, mas não cultivam relacionamentos entre si ), já não proporcionava mais este ambiente nativo e essencial à vida da Ekklesia. Muitos estavam nas denominações como peixes morrendo de boca aberta no Rio Tietê, imersos em algo que parecia água, mas que já não tinha H2O.
Portanto, Gamaliel, com todo respeito e genuina consideração à sua salutar sapiência, “desigrejados” são aqueles que não têm Igreja, sem teto, sem terra e sem casa espiritual. A Igreja nos lares não é composta por um bando de errantes desigrejados e não deve jamais aceitar este rótulo. Ou até mesmo você , Gamaliel, vai confudir a Igreja católica com a Igreja Católica? Ou a Igreja universal com a Igreja Universal?
Talvez você não pense assim, mas chamar aqueles que se reúnem nos lares de desigrejados (que quer dizer “desprovido de igreja”) é fruto de uma ignorância minimalista que limita a Igreja de nosso Senhor aos arraiais institucionais – um reducionismo insano, bíblica e historicamente falando – algo inaceitável para você, Gamaliel, que conhece tão bem a Bíblia e a história da Igreja.
Lembra, Gamaliel, de que a Ekklesia começou como uma rede informal de Igreja nas casas e não como uma organização? De que certas estruturas e pedigrees institucionais emergiram somente com o passar dos séculos? E de que há uma grande probabilidade, Gamaliel, de que a instituição da qual você faz parte seja o monumento histórico de algum grupo dissidente que um dia foi considerado tão “desigrejado” quanto a Igreja nos lares dos dias de hoje?
Diz o oráculo que é bem aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova. Portanto, Gamaliel, aconselho que deixe de se utilizar de certos jargões característicos dos CNPJólatras, para que seu discurso faça mais jus à flexibilidade e à ampla visão espiritual que você parece demonstrar.
E, por favor, desculpe-me por chamá-lo de Gamaliel, caso o tenha ofendido. Pela desenvoltura que demonstra ter, imagino que você seja um homem de Deus que está frutificando no lugar onde o Senhor o plantou, pois está atento à manifestação da MULTIFORME sabedoria de Deus nos dias atuais. Ao chamá-lo de Gamaliel não quis comparar você a um fariseu melhorado, ou a sua Igreja à uma sinagoga. Minha intenção foi somente demonstrar a alguém de cabeça aberta, assim como você, como alguns rótulos podem soar beligerantes, às vezes.
Nota
[1] Para entender a diferença entre o pós-igrejismo e a Igreja nos lares recomendo a leitura desta série de dois artigos de Frank Viola chamada “Cristianismo Pós-Igreja” e um artigo de minha autoria chamado “Peregrinos da Pós-modernidade“. Por estes artigos entende-se, portanto, que a Igreja nos lares não endossa uma prática de “igreja virtual” descomprometida, somente desconstrói algumas tradições que foram agregadas à prática de Igreja.
Por: © Pão & Vinho
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Fonte: http://paoevinho.org/?p=4874
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