O artigo abaixo foi escrito pelo teólogo pentecostal e pastor da Assembleia de Deus, Geremias Couto, há aproximadamente 12 anos atrás. Foi originalmente publicado na revista Obreiro, da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) em junho de 1998. É, sem dúvida, uma fiel descrição do quadro que estamos vivenciando hoje na Igreja.
A questão denominacional é um tema que precisa ser colocado em debate, neste final de século, tendo em vista o aumento considerável de denominações resultante do crescimento dos evangélicos nas últimas décadas. Há quem prefira fechar os olhos ante a realidade, sem discuti-la, enquanto outros optam pelo radicalismo unilateral e excludente, que privilegia uma única denominação como a depositária da verdade. Todavia, não importa a posição de cada um, a entrada do próximo milênio terá como uma de suas principais características, no meio religioso, a multiplicação acentuada de novas igrejas de matizes diversos e efeitos profundos na vida denominacional.
A questão denominacional é um tema que precisa ser colocado em debate, neste final de século, tendo em vista o aumento considerável de denominações resultante do crescimento dos evangélicos nas últimas décadas. Há quem prefira fechar os olhos ante a realidade, sem discuti-la, enquanto outros optam pelo radicalismo unilateral e excludente, que privilegia uma única denominação como a depositária da verdade. Todavia, não importa a posição de cada um, a entrada do próximo milênio terá como uma de suas principais características, no meio religioso, a multiplicação acentuada de novas igrejas de matizes diversos e efeitos profundos na vida denominacional.
Antes, porém, de refletir sobre como estas transformações influenciarão os rumos da igreja evangélica nos próximos anos, convém analisar as causas que têm tornado cada vez mais ampla essa babel, termo aqui usado apenas para designar a complexidade da linguagem empregada em cada segmento cristão, que, vezes sem conta, contradita o que outros segmentos pensam e afirmam.
Causas
A causa mais simples, do ponto de vista crítico, é o crescimento vertiginoso dos evangélicos, que, segundo a Veja de 8 de abril, numa projeção bastante aquém da realidade, alcançou o percentual de 300% nos últimos 30 anos contra 68% de crescimento populacional. A popularidade da fé através do uso dos meios de comunicação incorporou uma enorme massa de novos adeptos que não só expandiu as igrejas já existentes, como também ensejou o surgimento de novos ramos denominacionais.
Houve tempo em que ser evangélico atraía ferrenho preconceito e marginalizava o converso do meio social, para não mencionar as freqüentes e ferozes perseguições movidas pelo catolicismo contra os que professavam a “nova” doutrina. Hoje, o quadro mudou. Os milhares de conversões genuínas atenuaram esta visão deturpada e permitiram o livre exercício da fé.
Por outro lado, pertencer a uma igreja evangélica, para muitos, passou a ser sinônimo de status, além da sensação de fazer parte de uma comunidade que desfruta de “respeito” e conta, entre os seus membros, com pessoas oriundas de extratos sociais mais elevados. Tudo isso bastou para que indivíduos com certa capacidade de liderança encontrassem a porta aberta para iniciar novos projetos que resultaram nos mais diferentes modelos de culto.
Outra causa, esta de porte complexo, é a liberdade religiosa emanada do texto constitucional. Não há nenhuma lei que regule a abertura de novas igrejas. Basta dispor de endereço, estatuto aprovado em assembléia e formalizar o registro para que se exerçam as atividades religiosas. Sem deixar de reconhecer a sinceridade daqueles que iniciam novos movimentos movidos apenas pelo desejo de ver expandir-se o Reino de Deus, esta facilidade permite que as dissidências cada vez mais presentes nas igrejas instituídas encontrem caminho fácil para constituírem novas denominações. Hoje, o número delas, no Brasil, ultrapassa a 500. Num quadro assim não há como negar, também, a existência dos “picaretas”, que se utilizam da fachada evangélica com objetivos nada nobres.
Não preconizo nenhuma restrição legal. Entendo que o governo não deve, jamais, imiscuir-se nos assuntos de fé. Propor e aprovar normas em nome de uma possível regulamentação é tolher a liberdade religiosa, cláusula pétrea de qualquer regime democrático, e legislar numa área extremamente subjetiva, onde os representantes da lei não terão como definir o que é legítimo ou não. Além do mais, sempre haverá a possibilidade de a legislação vir a ser aplicada para favorecer determinados segmentos religiosos em detrimento de outros, dependendo de quem estiver no exercício do poder. Haja vista que mesmo hoje, em que o texto da carta magna consagra a separação completa entre a religião e o estado, a igreja romana continua desfrutando de privilégios não concedidos a outros grupos confessionais. Ora, com todas as fragilidades de um modus vivendi desregulamentado, ainda acredito que esta é a melhor forma para a propagação do Evangelho. Vale quem tiver o melhor poder de persuasão.
Portanto, a proliferação cada vez mais acentuada das denominações está aí – e veio para ficar – com todos os desdobramentos que isto implica para a difusão da fé bíblica. Não adianta esbravejar contra esta realidade nem deixar de admiti-la. Não muda em nada. O mais racional é reconhecê-la e descobrir de que modo interfere no dia-a-dia de cada um, para então lidar-se com ela sem nenhum conflito.
Efeitos
Constata-se, inicialmente, que nenhuma denominação pode arvorar-se como a única alternativa para o exercício legítimo da vida cristã. Mesmo naquelas onde certas práticas de suas lideranças se confundem com elementos litúrgicos assimilados do medievalismo católico, há crentes sinceros que foram alcançados e transformados pelo poder do Evangelho. Houve tempo em que as opções reduziam-se às igrejas históricas (a Assembléia de Deus, em certo sentido, já o é), de modo que o discurso radicalizado em defesa de uma igreja como a única de conteúdo neotestamentário ainda encontrava eco. Mas hoje não convence.
Quem analisa a questão sem condicionamentos há de convir que o cerne da mensagem proclamada em milhares de templos de diferentes denominações espalhados pelo mundo é o fundamento apostólico, cuja centralidade é a cruz, ainda que em muitos casos não se concorde com a forma. Adotar, portanto, uma teologia exclusivista é repetir o erro do dogma romano de que fora da igreja não há salvação. Ora, a idéia aqui implícita é a de que não se experimenta a redenção fora das fronteiras do catolicismo. Em outras palavras, esse raciocínio subverte os valores, pois, ao invés de instrumento que proclama a graça, a igreja como instituição confessional passa a ocupar a primazia e torna-se um fim em si mesmo, contrariando o ensino do Novo Testamento.
Não se encontra em qualquer parte dos evangelhos ou das epístolas um texto sequer que possa ser interpretado favoravelmente ao exclusivismo denominacional. O que torna uma igreja essencialmente neotestamentária não é o nome que ostenta, nem o modelo administrativo adotado, ou mesmo o vínculo que tenha com alguma estrutura eclesiástica, mas o grau de compromisso com os postulados da fé apostólica, que centraliza a vivência da fé na obra redentora de Cristo. Daí porque o melhor é substituir o discurso envelhecido da única alternativa pela visão de Agostinho que, mais do que nunca, continua plena de atualidade: “Nas coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, diversidade; e em todas as coisas, amor”.
[...]
Se o advento de novos grupos denominacionais trouxe valiosas contribuições ao evangelismo, ensejou, por outro lado, a desenvoltura de movimentos voltados para a banalização da fé através do mercantilismo religioso. Ao invés de favor imerecido, a graça passou a ser algo que se adquire mediante dinheiro, onde quanto maior a quantia mais o contribuinte recebe. Sob este raciocínio, Deus transforma-se em devedor do ser humano e se obriga a abençoá-lo na proporção de suas ofertas.
[...]
[O] que alguns segmentos denominacionais fazem através dos meios de comunicação é banalizar a fé e restringi-la ao âmbito da comercialização em busca de resultados materiais. A proclamação limita-se ao uso de jargões que induzem os ouvintes a pensar na vida cristã como um mercado, onde quem paga mais leva o melhor produto. Além dos malefícios em si, tal prática desvia-se do eixo do Evangelho e abre espaço para que indivíduos desprovidos de escrúpulos organizem negócios transvestidos de igrejas com o objetivo de ganhar dinheiro em cima das necessidades do povo. O problema é que pela facilidade da generalização muitos englobam todas as denominações sob a mesma ótica. Alguns, por pura malícia. Outros, por falta de senso crítico.
Tendências
Diante do quadro que aí está, detectam-se diversas tendências que, certamente, influenciarão o curso do denominacionalismo nos próximos anos, interferindo de forma direta na ação de cada igreja na entrada do próximo milênio.
A existência cada vez maior de novos grupos diversificados torna bem visível a tendência de colocar-se a nomenclatura denominacional em plano secundário. O que as pessoas estão considerando, hoje, não é a designação em si, mas as propostas de fé que as igrejas proclamam. Por mais que mentes tradicionais se choquem, o peso do nome já não influencia tanto na hora de fazer-se a opção. O que empolga são os discursos contextualizados à necessidade de cada um. Para os extremamente sofridos, a mensagem utilitarista. Para os de mentes racionais, os argumentos construídos com lógica. Ou seja, ocorre no meio denominacional o mesmo fenômeno que está transformando os conceitos mercadológicos: os clientes pouco se preocupam com a marca, pois já não se identificam com ela. Eles são atraídos pela forma como o produto é apresentado, vindo em segundo plano a qualidade do conteúdo.
Outra razão por trás dessa tendência é que as denominações mais antigas não atualizaram seus métodos, úteis para aquela época, mas a maioria ineficiente para os dias de hoje. Eles precisam ser reciclados tendo em vista a realidade atual. Vale lembrar que a mensagem permanece inalterada, mas à medida que mudam os tempos torna-se indispensável a reformulação de estratégias sob pena de não serem atingidos os objetivos. Em razão disso, os incoversos não olham para a cor denominacional, mas acabam envolvidos por aquelas igrejas que de modo mais eficaz conseguem alcançá-los.
A necessidade de fazer frente a essa realidade, até certo ponto ambígua, produz outra tendência. A de igrejas que optam de forma unilateral pelo superficialismo das formas, como se estas tivessem maior valor do que o conteúdo. Na ânsia – legítima, por sinal – de aumentar o número de fiéis, resvalam para o extremo de pôr a ênfase nos meios empregados, com reuniões bem articuladas e métodos contemporâneos, onde a mensagem cristocêntrica acaba não sendo priorizada, deixando de receber o tratamento bíblico correto. O fruto são crentes imaturos, falta de firmeza na fé e a porta aberta para a aceitação de comportamentos sociais contrários à Palavra de Deus. A forma tem o seu lugar, mas não se pode, sob hipótese alguma, abrir mão da legitimidade do conteúdo.
Esta tendência gera diversos desdobramentos. O principal deles são denominações conformadas com o mundo, onde não se confronta o pecado mas busca-se explicá-lo à luz de filosofias humanistas, que admitem práticas como o aborto, homossexualismo e a liberação sexual com a maior naturalidade sob o argumento de que fazem parte da evolução do processo social. Com isso, aquelas que se mantêm comprometidas com os postulados bíblicos recebem o rótulo de ultrapassadas.
Vislumbram-se, portanto, duas realidades que identificarão cada vez mais as denominações daqui para frente. Os nomes terão pouca ou nenhuma importância em virtude da proliferação acentuada de novos grupos pelas razões descritas a pouco, acrescida da expansão dos chamados movimentos independentes, que não pensam em vincular-se a qualquer das estruturas existentes.
A primeira realidade constituir-se-á daquelas igrejas cujo perfil refletirá o padrão ético do Reino de Deus e o compromisso com a integridade da fé, não importa, repito, o nome que ostentem, nem a liturgia que adotem. A segunda terá como característica a falta de comprometimento com a Bíblia, a secularização de seus princípios, o conformismo com o sistema pecaminoso do mundo e o apego ao brilho fácil do materialismo. Sem querer simplificar, as duas realidades estão identificada na Bíblia pelas igrejas de Filadélfia e Laodicéia.
Estes perfis estarão de tal modo cada vez mais presentes na vida denominacional que as pessoas não perguntarão pela igreja em si, mas pela fé que professa. Até mesmo porque muitas congregações têm posturas que diferem de outras adotadas por igrejas da mesma denominação. O tipo de comportamento peculiar dessa época em ambos os grupos é assim descrito pelo apóstolo João: “Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda”, Ap 22.11.
Causas
A causa mais simples, do ponto de vista crítico, é o crescimento vertiginoso dos evangélicos, que, segundo a Veja de 8 de abril, numa projeção bastante aquém da realidade, alcançou o percentual de 300% nos últimos 30 anos contra 68% de crescimento populacional. A popularidade da fé através do uso dos meios de comunicação incorporou uma enorme massa de novos adeptos que não só expandiu as igrejas já existentes, como também ensejou o surgimento de novos ramos denominacionais.
Houve tempo em que ser evangélico atraía ferrenho preconceito e marginalizava o converso do meio social, para não mencionar as freqüentes e ferozes perseguições movidas pelo catolicismo contra os que professavam a “nova” doutrina. Hoje, o quadro mudou. Os milhares de conversões genuínas atenuaram esta visão deturpada e permitiram o livre exercício da fé.
Por outro lado, pertencer a uma igreja evangélica, para muitos, passou a ser sinônimo de status, além da sensação de fazer parte de uma comunidade que desfruta de “respeito” e conta, entre os seus membros, com pessoas oriundas de extratos sociais mais elevados. Tudo isso bastou para que indivíduos com certa capacidade de liderança encontrassem a porta aberta para iniciar novos projetos que resultaram nos mais diferentes modelos de culto.
Outra causa, esta de porte complexo, é a liberdade religiosa emanada do texto constitucional. Não há nenhuma lei que regule a abertura de novas igrejas. Basta dispor de endereço, estatuto aprovado em assembléia e formalizar o registro para que se exerçam as atividades religiosas. Sem deixar de reconhecer a sinceridade daqueles que iniciam novos movimentos movidos apenas pelo desejo de ver expandir-se o Reino de Deus, esta facilidade permite que as dissidências cada vez mais presentes nas igrejas instituídas encontrem caminho fácil para constituírem novas denominações. Hoje, o número delas, no Brasil, ultrapassa a 500. Num quadro assim não há como negar, também, a existência dos “picaretas”, que se utilizam da fachada evangélica com objetivos nada nobres.
Não preconizo nenhuma restrição legal. Entendo que o governo não deve, jamais, imiscuir-se nos assuntos de fé. Propor e aprovar normas em nome de uma possível regulamentação é tolher a liberdade religiosa, cláusula pétrea de qualquer regime democrático, e legislar numa área extremamente subjetiva, onde os representantes da lei não terão como definir o que é legítimo ou não. Além do mais, sempre haverá a possibilidade de a legislação vir a ser aplicada para favorecer determinados segmentos religiosos em detrimento de outros, dependendo de quem estiver no exercício do poder. Haja vista que mesmo hoje, em que o texto da carta magna consagra a separação completa entre a religião e o estado, a igreja romana continua desfrutando de privilégios não concedidos a outros grupos confessionais. Ora, com todas as fragilidades de um modus vivendi desregulamentado, ainda acredito que esta é a melhor forma para a propagação do Evangelho. Vale quem tiver o melhor poder de persuasão.
Portanto, a proliferação cada vez mais acentuada das denominações está aí – e veio para ficar – com todos os desdobramentos que isto implica para a difusão da fé bíblica. Não adianta esbravejar contra esta realidade nem deixar de admiti-la. Não muda em nada. O mais racional é reconhecê-la e descobrir de que modo interfere no dia-a-dia de cada um, para então lidar-se com ela sem nenhum conflito.
Efeitos
Constata-se, inicialmente, que nenhuma denominação pode arvorar-se como a única alternativa para o exercício legítimo da vida cristã. Mesmo naquelas onde certas práticas de suas lideranças se confundem com elementos litúrgicos assimilados do medievalismo católico, há crentes sinceros que foram alcançados e transformados pelo poder do Evangelho. Houve tempo em que as opções reduziam-se às igrejas históricas (a Assembléia de Deus, em certo sentido, já o é), de modo que o discurso radicalizado em defesa de uma igreja como a única de conteúdo neotestamentário ainda encontrava eco. Mas hoje não convence.
Quem analisa a questão sem condicionamentos há de convir que o cerne da mensagem proclamada em milhares de templos de diferentes denominações espalhados pelo mundo é o fundamento apostólico, cuja centralidade é a cruz, ainda que em muitos casos não se concorde com a forma. Adotar, portanto, uma teologia exclusivista é repetir o erro do dogma romano de que fora da igreja não há salvação. Ora, a idéia aqui implícita é a de que não se experimenta a redenção fora das fronteiras do catolicismo. Em outras palavras, esse raciocínio subverte os valores, pois, ao invés de instrumento que proclama a graça, a igreja como instituição confessional passa a ocupar a primazia e torna-se um fim em si mesmo, contrariando o ensino do Novo Testamento.
Não se encontra em qualquer parte dos evangelhos ou das epístolas um texto sequer que possa ser interpretado favoravelmente ao exclusivismo denominacional. O que torna uma igreja essencialmente neotestamentária não é o nome que ostenta, nem o modelo administrativo adotado, ou mesmo o vínculo que tenha com alguma estrutura eclesiástica, mas o grau de compromisso com os postulados da fé apostólica, que centraliza a vivência da fé na obra redentora de Cristo. Daí porque o melhor é substituir o discurso envelhecido da única alternativa pela visão de Agostinho que, mais do que nunca, continua plena de atualidade: “Nas coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, diversidade; e em todas as coisas, amor”.
[...]
Se o advento de novos grupos denominacionais trouxe valiosas contribuições ao evangelismo, ensejou, por outro lado, a desenvoltura de movimentos voltados para a banalização da fé através do mercantilismo religioso. Ao invés de favor imerecido, a graça passou a ser algo que se adquire mediante dinheiro, onde quanto maior a quantia mais o contribuinte recebe. Sob este raciocínio, Deus transforma-se em devedor do ser humano e se obriga a abençoá-lo na proporção de suas ofertas.
[...]
[O] que alguns segmentos denominacionais fazem através dos meios de comunicação é banalizar a fé e restringi-la ao âmbito da comercialização em busca de resultados materiais. A proclamação limita-se ao uso de jargões que induzem os ouvintes a pensar na vida cristã como um mercado, onde quem paga mais leva o melhor produto. Além dos malefícios em si, tal prática desvia-se do eixo do Evangelho e abre espaço para que indivíduos desprovidos de escrúpulos organizem negócios transvestidos de igrejas com o objetivo de ganhar dinheiro em cima das necessidades do povo. O problema é que pela facilidade da generalização muitos englobam todas as denominações sob a mesma ótica. Alguns, por pura malícia. Outros, por falta de senso crítico.
Tendências
Diante do quadro que aí está, detectam-se diversas tendências que, certamente, influenciarão o curso do denominacionalismo nos próximos anos, interferindo de forma direta na ação de cada igreja na entrada do próximo milênio.
A existência cada vez maior de novos grupos diversificados torna bem visível a tendência de colocar-se a nomenclatura denominacional em plano secundário. O que as pessoas estão considerando, hoje, não é a designação em si, mas as propostas de fé que as igrejas proclamam. Por mais que mentes tradicionais se choquem, o peso do nome já não influencia tanto na hora de fazer-se a opção. O que empolga são os discursos contextualizados à necessidade de cada um. Para os extremamente sofridos, a mensagem utilitarista. Para os de mentes racionais, os argumentos construídos com lógica. Ou seja, ocorre no meio denominacional o mesmo fenômeno que está transformando os conceitos mercadológicos: os clientes pouco se preocupam com a marca, pois já não se identificam com ela. Eles são atraídos pela forma como o produto é apresentado, vindo em segundo plano a qualidade do conteúdo.
Outra razão por trás dessa tendência é que as denominações mais antigas não atualizaram seus métodos, úteis para aquela época, mas a maioria ineficiente para os dias de hoje. Eles precisam ser reciclados tendo em vista a realidade atual. Vale lembrar que a mensagem permanece inalterada, mas à medida que mudam os tempos torna-se indispensável a reformulação de estratégias sob pena de não serem atingidos os objetivos. Em razão disso, os incoversos não olham para a cor denominacional, mas acabam envolvidos por aquelas igrejas que de modo mais eficaz conseguem alcançá-los.
A necessidade de fazer frente a essa realidade, até certo ponto ambígua, produz outra tendência. A de igrejas que optam de forma unilateral pelo superficialismo das formas, como se estas tivessem maior valor do que o conteúdo. Na ânsia – legítima, por sinal – de aumentar o número de fiéis, resvalam para o extremo de pôr a ênfase nos meios empregados, com reuniões bem articuladas e métodos contemporâneos, onde a mensagem cristocêntrica acaba não sendo priorizada, deixando de receber o tratamento bíblico correto. O fruto são crentes imaturos, falta de firmeza na fé e a porta aberta para a aceitação de comportamentos sociais contrários à Palavra de Deus. A forma tem o seu lugar, mas não se pode, sob hipótese alguma, abrir mão da legitimidade do conteúdo.
Esta tendência gera diversos desdobramentos. O principal deles são denominações conformadas com o mundo, onde não se confronta o pecado mas busca-se explicá-lo à luz de filosofias humanistas, que admitem práticas como o aborto, homossexualismo e a liberação sexual com a maior naturalidade sob o argumento de que fazem parte da evolução do processo social. Com isso, aquelas que se mantêm comprometidas com os postulados bíblicos recebem o rótulo de ultrapassadas.
Vislumbram-se, portanto, duas realidades que identificarão cada vez mais as denominações daqui para frente. Os nomes terão pouca ou nenhuma importância em virtude da proliferação acentuada de novos grupos pelas razões descritas a pouco, acrescida da expansão dos chamados movimentos independentes, que não pensam em vincular-se a qualquer das estruturas existentes.
A primeira realidade constituir-se-á daquelas igrejas cujo perfil refletirá o padrão ético do Reino de Deus e o compromisso com a integridade da fé, não importa, repito, o nome que ostentem, nem a liturgia que adotem. A segunda terá como característica a falta de comprometimento com a Bíblia, a secularização de seus princípios, o conformismo com o sistema pecaminoso do mundo e o apego ao brilho fácil do materialismo. Sem querer simplificar, as duas realidades estão identificada na Bíblia pelas igrejas de Filadélfia e Laodicéia.
Estes perfis estarão de tal modo cada vez mais presentes na vida denominacional que as pessoas não perguntarão pela igreja em si, mas pela fé que professa. Até mesmo porque muitas congregações têm posturas que diferem de outras adotadas por igrejas da mesma denominação. O tipo de comportamento peculiar dessa época em ambos os grupos é assim descrito pelo apóstolo João: “Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda”, Ap 22.11.
Por Hugo
Fonte: http://paoevinho.org/?p=3444
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